quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Algumas questões para pensarmos durante o processo de construção do PPP Pasqualini.

E a Escola, tem educado para a autoria ou tem gerado alunos que se limitam a reproduzir?

E a Escola tem exercitado a autoria ou também se contenta em reproduzir?

A autoria é um processo aberto, que nunca chega a um ponto de finalização concreto, pois a cada retomada surgem modificações, na tentativa de sempre melhorar o sentido do que está exposto. É um exercício essencialmente de natureza humana: a capacidade intencional, inventiva e criativa.

“... Vejo que duas fases na trajetória escolar estimulam de forma significativa a autoria. A educação infantil e o doutorado. A primeira por ser a criança naturalmente curiosa, criativa e espontânea, despreocupada com modelos e estereótipos ou com a rejeição do seu pensamento; e o doutorado, pela exigência da profundidade do conhecimento.” (Blog Sobre educação)

“Assim compreende-se que o conhecimento não é transferido ou depositado pelo outro (conforme concepção tradicional), nem é inventado pelo sujeito (concepção espontaneísta), mas sim construído pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo”. (Vasconcellos, 1997)

“O que conta nas coisas ditas pelos homens não é tanto o que teriam pensado aquém ou além delas, mas o que desde o princípio as sistematiza, tornando-as pelo tempo afora, infinitamente acessíveis a novos discursos e abertas à tarefa de transformá-los. (Michel Foucault, O Nascimento da Clínica.

Construir é abrir novos caminhos e horizontes; é perceber-se enquanto ser que age em coletividade, que pensa com os outros, que dialoga. Não acreditamos em construções isoladas, mas multiplicadas. Somos construções coletivas não apenas porque compartilhamos descobertas, mas porque nossas células, nossos corpos, nossos “eus” se comungam. Tornamo-nos cúmplices de uma mesma estrutura. (Lara, efdeportes.com)

Esta escola como lugar de conhecer, estaria colocando para o aluno, o que há de grandioso na ciência, ou seja, o homem diante da dúvida, diante de um processo que se constrói pelos erros e pela negação... por rupturas e continuidades e, sobretudo, por interesses humanos.(3) Neste lugar de conhecer haveria um respeito profundo pela inteligência do aluno, haveria a convicção de que “a inteligência dos alunos não é um vaso que se tem de encher; mas uma fogueira que é preciso manter acesa”.(4)

Papel da escola, da metodologia do ensino, do planejamento: organizar criativamente o conhecimento a ser tratado no tempo... produzir desafios com este conhecimento, arrancar alegria a cada conquista. Snyders afirma a existência possível de uma escola alegre; afirma a possibilidade da alegria como sentimento que floresce do ato de conhecer. Fala da alegria da descoberta, da alegria de se aproximar do que é mais elaborado, do que é difícil; daquilo que não seria possível sem a escola. Afirma assim, para a escola, os saberes científicos, técnicos e estéticos e a escola como algo diferente da vida corrente e, exatamente por isto, desafiador. (5)

A escola é um momento na vida de quem está em seu interior e não apenas uma preparação para o futuro. (Soares)

O que a Escola faz enquanto escolariza?

Entre vários aspectos possíveis de discutir, sugiro dois: a análise crítica das ideologias dominantes subjacentes às diversas teorias de aprendizagem e um pouco da história da escola, por remeterem ao texto lido em uma de nossas reuniões e ao material que ficamos de estudar em casa, caso houvesse Xerox em nossa escola.

O APARELHO IDEOLÓGICO DA ESCOLA

A história da escola (É necessário entendermos alguns conceitos)

Modo de produção –

Capitalismo –

Superestrutura –

Uma sociedade não sobrevive sem produção. No capitalismo, as relações são de dominação e exploração. A escola faz parte da superestrutura, que são instituições criadas para reproduzir e garantir as relações de produção, o aparelho ideológico do capital.

É importante distinguirmos escola de educação. Considerando a etimologia da palavra (e/ex +ducere), educação é o processo de tirar de dentro de uma pessoa, ou levar para fora de uma pessoa, alguma coisa que já está dentro, presente na pessoa. A educação supõe que a pessoa não é uma “tabula rasa”, mas possui potencialidades próprias, que vão sendo atualizadas, colocadas em ação e desenvolvidas através do processo educativo. Esta distinção vai identificar as diversas correntes que se verificam através da história e a quem elas servem.

Na Grécia antiga, já havia dois modelos: o manipulador e o libertador (Sócrates). Na França, em 1766, La Chalotais afirmava que “o bem da sociedade exige que o conhecimento das gentes não vá mais longe do que é necessário para a sua própria ocupação diária. Na Inglaterra, em 1897, um projeto de dar escolas a todos foi derrubado na Câmara dos Lordes, entre outras, por esta razão: “Em vez de ensinar-lhes subordinação, (a escola) os tornaria facciosos e rebeldes... Torná-los-ia insolentes ante seus superiores. Em 1934, um jornal dos professores da França dizia o seguinte: “Nós educadores, sabemos aproveitar todas e cada uma das ocasiões que nos são apresentadas para inspirar nos nossos alunos um ardente amor à Pátria.

O que se vê com os exemplos acima é a mudança que a escola sofre, na medida em que ela se torna necessária ao sistema. O tipo de escola que possuímos hoje, nos países capitalistas dependentes é a necessária para que o capital possa se expandir e ter muitos lucros. A nossa escola desempenha duas funções principais:

1º - Preparar mão-de-obra para o capital. Este objetivo está claro nas justificativas das próprias reformas.

2º - Reproduzir as relações de dominação e de exploração.

A ideologia das teorias de aprendizagem (importante para entendermos como a escola serve à reprodução das relações de produção, principalmente à relação de dominação.

Todos nós temos nossas teorias de como se aprende e como se ensina. Pense nisso e tente identificar qual a sua teoria e a quem ela serve.

Talvez possamos englobar as diversas teorias em duas matrizes principais:

1º - A matriz dos condicionamentos, ou comportamental – Pressupostos principais: a aprendizagem se processa através de estímulos que determinam, basicamente, a aprendizagem do aluno. O conteúdo é transmitido ao aluno. Os processos são de imitação e repetição.

Examinando nossa pedagogia, nossa didática, veremos que a maioria dos métodos usados ainda é baseada nesta matriz teórica, do estímulo-resposta. Os professores fazem as coisas, dão os exemplos, e os alunos reproduzem e repetem o que lhes é pedido.

Que tipo de homem está por trás desta teoria? Um homem sem iniciativa, sem criatividade, que reproduz (como um macaco, um golfinho, um rato).

A quem interessa esta teoria? Interessa ao modo de produção capitalista, um trabalhador que faça as coisas com eficiência e rapidez. Não precisa pensar, decidir, nem planejar. Apenas executar. Aliás, quanto menos pensar, melhor. O homem vai sendo substituído pelo robô, pois o homem não passa mesmo dum robô, dum autômato. O decidir, pensar, criar é deixado para um pequeno grupo de privilegiados.

2º - A matriz dialogal – Mostra que aprender e ensinar inclui o próprio educando. A pessoa é sujeito da ação. Ensina-se perguntando, desequilibrando,provocando dúvidas, produzindo desafios. O saber é algo pessoal, subjetivo individual, único, irrepetível.

Sabemos que os conteúdos didáticos são cheios de ideologias, mas também sabemos que as mais perniciosas são as ideologias que são transmitidas na didática, na pedagogia, na prática de como se ensina.

Como seria uma prática dialogal? O diálogo para ser verdadeiro tem que se dar em igualdade de posições. O dialogo exige respeito total ao mundo do outro, exige verdadeira democracia. Nessa reciprocidade, na provocação de um para com o outro, dá-se o verdadeiro diálogo que leva ao crescimento mútuo, ao conhecimento dos esquemas lógicos subjacentes a cada um. Se este diálogo não é estabelecido fica a atitude dominadora que cultiva no aluno a atitude de submissão e dependência, que muitas vezes já aprendera na família, e que levará para as outras instâncias da sociedade.

Paulo Freire diz que todo o processo educativo deve ser a prática duma Páscoa. Por Páscoa se entende a passagem de uma situação negativa (escravidão, morte) para uma situação positiva (liberdade, vida, ressurreição). Diz Freire que o verdadeiro educador é aquele que é capaz de praticar uma Páscoa, isto é, morrer a seus critérios, a seu esquema cognitivo, a seu esquema lógico, sempre que entrar em contato com um educando, para poder depois, com o educando, ressuscitar numa nova relação de vida e liberdade.

Professor, na etimologia da palavra, significa “falar na frente das pessoas”. Devemos usar a palavra, educador, para aquele que sabe fazer a pergunta, colocando o educando em contradição e num processo de caminhada autônoma, independente. É essa prática que leva a uma educação libertadora.

Um sistema autoritário não pode aceitar uma prática educativa dialogal, pois cedo ou tarde esta prática iria questionar as relações básicas, fundamentais do sistema. A grande força de uma prática educativa dialogal é que ela leva à mudança das relações existentes na sociedade, pois ela fornece um novo modelo de vivência social. As pessoas que se acostumam a uma prática democrática vão levar esta prática às outras instituições sociais. Eis a grande chance de uma escola: poder ser o laboratório onde se forjarão novas vivências comunitárias, de onde poderão surgir transformações profundas e radicais em todo o corpo social. (Extensa contribuição do livro “Sociologia Crítica – Alternativa de mudanças” de Pedrinho Guareschi, EDIPUCRS, 2003)

PPP DA ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA (Ilma Passos A. Veiga)

A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. O PPP é a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo. Vai além de um agrupamento de planos de ensino e atividades diversas. Não é para ser construído e arquivado e sim construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola.

Construir projetos é planejar o que temos intenção de fazer, de realizar. É antever segundo Gadotti, um futuro diferente do presente. Todo o projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. Paulo Freire diz que a primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. É exatamente esta capacidade de atuar, operar, de transformar a realidade de acordo com finalidades propostas pelo homem, à qual está associada sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis.

Será que todos nós, envolvidos com a prática pedagógica do Pasqualini, temos condições objetivas para o pleno exercício da maneira humana de existir? Por que temos tantos problemas com o comprometimento/compromisso?

O compromisso, próprio da existência humana, só existe no engajamento com a realidade e se nos interessa analisar o compromisso do profissional com a sociedade, teremos que reconhecer que ele antes de ser profissional, é homem. Deve ser comprometido por si mesmo. (Freire, Educação e Mudança)

O PPP è um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”. Ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizando a burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. Para uma construção democrática é necessário que se eliminem as relações de poder. O ponto interessante é que a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade.

Magali D. Rodriguez


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